O agravamento da pandemia e o governo de SP

No Estado de São Paulo, o nível de distanciamento social caiu para menos de 50%. Quanto menor for esse nível, maiores serão as quantidades de pessoas infectadas e mortas, e do jeito que está agora é insuficiente para evitar que o sistema público de saúde atinja o seu limite. A pandemia de COVID-19 está avançando de maneira cada vez mais rápida nas favelas e periferias, e no interior paulista. Segundo o próprio governo estadual, a previsão é que o novo coronavírus alcance todos os 645 municípios de SP até o final de maio.

O governo Dória, que quer aparecer como oposição ao governo Bolsonaro/Mourão, na verdade concorda com o governo federal que a prioridade deve ser o lucro e os interesses de uma minoria rica e poderosa e não as necessidades populares. Por isso, o governo de São Paulo não tem, e não terá, nenhum plano comprometido em assegurar a saúde, a renda e a moradia para o povo visando aumentar a adesão ao distanciamento social e conter o avanço da pandemia. Assim sendo, o governo Dória tem culpa com o agravamento da pandemia em SP porque prioriza favorecer a riqueza e o poder de uma minoria. Além disso, os governos passados também tem culpa com o que está acontecendo agora porque tinham essa mesma prioridade que faz com que hoje, por exemplo, não exista um sistema de saúde capaz de conter o avanço do novo coronavírus.

Diante do agravamento da crise e pandemia em SP, e em todo o Brasil (e no mundo), que está massacrando a nossa gente, é necessário fortalecer as iniciativas de apoio mútuo e solidariedade popular, assim como a organização e a mobilização popular contra os governos e os patrões para defender as nossas condições de vida e trabalho. Além de ser necessário fazer isso agora, também é preciso construir um movimento sindicalista revolucionário de massas para avançar em direção a uma vida digna em sociedade onde realmente exista igualdade, liberdade e respeito ao meio ambiente. Só assim nós, trabalhadoras, trabalhadores e gente do povo, poderemos buscar soluções efetivas para a situação de crise e pandemia.

Fortalecer a solidariedade popular contra a COVID-19!
Lutar contra os governos e os patrões!
Construir o sindicalismo revolucionário!

Luta e Solidariedade dos Trabalhadores e Sindicalistas Revolucionários contra a Pandemia da Gripe Espanhola

O que podemos aprender?

Enquanto a pandemia de COVID-19 já contaminou milhões e matou milhares de pessoas no mundo, há mais de 100 anos atrás, a gripe espanhola de 1918-1920 matou milhões, sendo muito mais mortal que a primeira guerra e, assim como a pandemia atual, foi extremamente agravada pela ganância dos capitalistas, na extrema lógica fetichista da auto-valorização do capital pela exploração e do trabalho da gigantesca maioria, a classe trabalhadora.

Esse texto foi escrito enquanto a pandemia ainda não acabou, e muitas formas de luta da classe trabalhadora devem surgir e se desenvolver ainda, enquanto a maioria da população mundial luta por sua sobrevivência contra a pandemia e o capital. Mas a gripe espanhola de 1918-1920 acabou e temos muita informação sobre ela e sobre as lutas da classe trabalhadora nesse período, talvez algo desses exemplos de luta contra essa antiga pandemia possa nos ajudar.

A gripe espanhola, que na verdade aparentemente surgiu nos Estados Unidos, surgiu num conturbadíssimo período do pós-primeira guerra e da onda revolucionária e de guerra civil revolucionária que desmanchou no ar tudo que era sólido entre a Alemanha e a Mongólia, e abalou todo o mundo capitalista. A classe trabalhadora da época, mesmo em condição extremamente precária, miserável e violenta, estava forte e sabia seu potencial. Quando a pandemia começou a matar milhares e milhares, os trabalhadores se levantaram exigindo não morrer por ter que trabalhar, nem morrer de fome por estar doente e não poder fazê-lo.

Guerra, Pandemia de Gripe e Pandemia de greves e revoluções

A gripe espanhola se propagou por causa da genocida guerra inter-imperialista. Não suficiente fora matar milhões de trabalhadores e camponeses na guerra fratricida para repartir colônias e saques entre os estados imperialistas e o grande capital, e não suficiente fora mandar mais contingentes para uma guerra contrarrevolucionária no leste europeu e Rússia revolucionária, essas guerras espalharam o vírus influenza em uma pandemia que matou no mínimo 20 milhões, com estimativas de letalidade até 100 milhões (por volta de 5% da população mundial da época). Essas mortes se concentraram nas populações operárias e coloniais, obrigadas a trabalhar em prol do lucro dos patrões.

Os primeiros casos foram no começo de 1918, mas a segunda onda, na segunda metade desse ano e a terceira onda no começo de 1919, foram os mais letais. O ano de 1919 é também marcado por “epidemias de greves” e “febres grevistas” como foram chamadas pelos jornais burgueses. Isso ocorreu porque, nessa época, a força da classe trabalhadora era gigantesca. Durante a guerra, trabalhadores e camponeses, forçados a serem soldados, se levantavam em greves e motins armados revolucionários, enquanto nas cidades fora dos campos de batalha, a falta de homens que eram mandados à guerra dava um gigante poder de negociação as operárias (a maioria mulheres, pois os homens estavam no front) mesmo que contra estados em Lei Marcial. Logo depois de toda essa morte na guerra, a pandemia da gripe espanhola foi devastadores para os trabalhadores e camponeses do mundo, gerando morte, peste e fome, mas essas mortes deram ainda maior poder para a classe.

Os trabalhadores do mundo, para além de ter vivo o exemplo da revolução ocorrendo na Rússia, leste europeu, Alemanha, México e outros países, estavam realmente sem nada a perder, pois trabalhar significava estar exposto à morte e o desemprego quase não existia devido a tantos trabalhadores mortos.

Em 1919, quatro milhões de trabalhadoras e trabalhadores (um quinto da força de trabalho) dos EUA entraram em greve. Na Austrália, em janeiro desse ano, trabalhadores portuários, marinheiros e do setor de transportes entraram em greve por aumento salarial, pensão às suas famílias caso morressem da gripe e direito a salário integral se estivessem internados ou em quarentena. Na Índia, então colônia britânica, entre 12 a 17 milhões de pessoas morreram, a maioria trabalhadores e camponeses das castas “mais baixas”, e essa atitude genocida do governo colonial foi confrontada em 1919 com uma greve-geral de toda a Índia.

No Brasil morreram no mínimo 35 mil pessoas, com corpos lotando as ruas e covas coletivas. As trabalhadores e trabalhadores do Brasil também lutaram por meio de greves não só contra a carestia geral e ausência de direitos, mas também para não morrer doentes enquanto eram obrigados a trabalhar na pandemia.

Primeiro de Maio, Greves e Solidariedade na Epidemia

O Primeiro de Maio é a data em que celebramos os mártires de Chicago, que em 1886 lideraram uma massiva greve exigindo o máximo de oito horas de trabalho diárias, alguns foram mortos na repressão policial e outros executados pelo estado sem provas de nenhum crime. Em seguida a data passa a ser celebrada pelos trabalhadores do mundo, como dia do trabalhador.

Entre 1917 e 1919, o movimento operário brasileiro seguia predominantemente a tendência Sindicalista Revolucionária. Em 1917 a Federação Operária do Rio de Janeiro faz um grande comício no primeiro de maio, há greves de trabalhadoras têxteis no mesmo mês também no Rio, muitas outras greves locais e a Greve Geral em São Paulo em julho. O Primeiro de Maio do ano seguinte acontece durante Estado de Sítio, e mesmo assim acontecem greves. A gripe espanhola tem seus maiores efeitos no Brasil a partir de setembro, em outubro, a UGCC (União Geral dos Construtores Civis) do Rio cria uma Comitê de Combate a Fome, que havia sido agravada pela epidemia da mortal gripe, “no dia 30 de outubro, a UOFT (União dos Operários em Fábricas de Tecido) encaminhou um ofício ao Centro Industrial. Neste, ela reivindicava um abono de 30% no salário dos operários parados por causa da epidemia, a dispensa dos aluguéis das casas de propriedade das indústrias e o retorno do funcionamento das fabricas por 56 horas semanais.” Com os patrões se negando a negociar, milhares de trabalhadoras e trabalhadores têxteis entram em greve em outubro e novembro de 1918.

A solidariedade das uniões operárias aos pauperizados, famintos e doentes durante a epidemia e as greves em favor ao direito à vida e saúde, contra a obrigação de trabalhar doente e adoecer no trabalhos, não devem ter sido algo isolado só do Rio de Janeiro no Brasil, falta estudo e registros sobre essa importante questão.

Toda a onda de greves e revoluções desse período de 1917 e 1919 obrigou a burguesia internacional a fazer importantes concessões à classe trabalhadora. Uma direta repercussão é a criação do que viria a ser a OIT (Organização Internacional do Trabalho), que em abril de 1919 tinha diretrizes de redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, abolição do trabalho infantil, entre outras. No Jornal do Brasil de 1º de Maio de 1919, temos em meio a vários convocações de comícios operários do 1º de Maio, um decreto da prefeitura do Rio de Janeiro instaurando diversos direitos para os funcionários municipais.

Lições para a Pandemia de hoje

Muito mudou nesses mais de 100 anos. A classe trabalhadora conquistou muitos direitos com sua luta, perdeu alguns e hoje sofre com novas formas de exploração (terceirização, uberização, automação do trabalho) e com o velho desemprego e recessão. Nessa pandemia, as medidas de contenção e isolamento, cientificamente comprovadas, estão sendo mais amplamente aplicadas que antes, mas ainda muitos trabalhadores sofrem com demissões em massa, serem obrigados a trabalhar e sem equipamentos de proteção, por não terem atendimento médico ou licenças de saúde pagas pelos empregadores, redução salarial, etc. Pior, nossa classe se encontra muito mais enfraquecida que antes, por anos de peleguismo, sindicalismo de estado e conciliação de classe infectando e enfraquecendo o movimento operário.

Muitas das medidas reivindicadas na época da gripe espanhola permanecem hoje: reivindicação e defesa de pensão a familiares em caso de morte, salário integral em caso de adoecimento, anistia do pagamento de aluguéis ou greve de aluguel, aumento de salário por trabalho em condição de risco; tudo isso segue sendo reivindicado hoje. Essas reivindicações emergenciais devem continuar a ser puxadas e fortalecidas pelos trabalhadores, por todos o métodos combativos possíveis! Campanhas de solidariedade de classe e ajuda mútua que existiram na época para garantir um mínimo de vida e saúde dos trabalhadores pauperizados, continuam existindo hoje e devem continuar e se fortalecer até forçar que os capitalistas e seus estados sejam obrigados a pagar pela crise que eles criaram e a não deixar que nenhum de nós morra pelo lucro deles!

E apesar de o futuro sob o capital ser desolador, talvez nossa classe encontre enorme força no meio destes terríveis acontecimentos, e certamente vemos vários inimigos perdendo apoio e “prestígio” por essa crise do capital, com as contradições aumentando e nossos inimigos de classe se atacando entre si. Mas só com nossa organização e luta decisiva, classista, combativa e revolucionária é que os faremos cair e ergueremos um novo mundo sobre as ruínas do velho.

NÃO VOLTEMOS A NORMALIDADE!
VENÇAMOS A PANDEMIA, O ESTADO E O CAPITAL!
SOLIDARIEDADE DE CLASSE, NENHUMA DEMISSÃO E DIMINUIÇÃO DE SALÁRIO!
PELO DIREITO À VIDA E À SAÚDE DOS TRABALHADORES!
FORA O PELEGUISMO! VIVA O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO!
NÃO VAMOS MORRER E ADOECER PELO LUCRO DO PATRÃO!
NÃO VAMOS MORRER DE FOME POR NÃO PODER TRABALHAR!